quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

RECEITA DE ANO NOVO - DRUMMOND

"Para você ganhar belíssimo Ano Novo cor do arco-íris,
ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação,
com todo o tempo já vivido (mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano,
não apenas pintado de novo,
remendado às carreiras,
mas, novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas, com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanhe,
não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passar telegramas?)
Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumadas nem, parvamente, acreditar que por decreto de esperança a partir de Janeiro as coisas mude,
me seja tudo claridade,
recompensa, justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados,
começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo,
eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre”.

Carlos Drummond de Andrade



domingo, 27 de dezembro de 2009

ESPERANDO NO CORREDOR...

Está um vento frio aqui fora!
Qual será o bloco J?
Ali.
Lá está o bloco J.
A sala é duzentos alguma coisa, acho que é duzentos e quarenta e um, esqueci de anotar.
Bom, aqui no térreo não é, aqui tudo é cento alguma coisa, então vamos subir a escada, as salas com numeração duzentos só podem ser no segundo andar.

Subimos.

É aqui.
Lá estão eles!
A mãe e sua tripla cria. A própria imagem da dignidade.

O corredor é largo e longo, as paredes cobertas por cartazes, quadros de avisos, portas numeradas dando entrada à inúmeras salas, onde acontecem os encontros entre aqueles que buscam o saber e, aqueles, que direcionam essa busca.

Ela está ali, mais ou menos na metade do corredor, esperando. Está bonita e sorridente, mas, por trás daquele sorriso se esconde a emoção da espera, a expectativa da chegada da família, dos amigos, das pessoas conhecidas.

Quantos virão? Será que não vai faltar ninguém?

Um abraço emocionado nos uni.

Ó Deus! Estão começando a chegar...

___ Venham tomar café, fala com seu jeito delicado e amoroso.

Mas o que é isso?
Não é apenas uma mesa de café da manhã para recepcionar os entes queridos.
A fartura e beleza exposta nessa mesa, demonstra muito mais. É alimento para abastecer o corpo e a alma, uma forma de agradecer cada presença. Observo os detalhes da mesa, as bandejas com as iguarias diversificadas, as jarras de sucos coloridas, as garrafas de café, as caixas de leite, a cesta de frutas, tudo perfeito, tudo preparado com o carinho e a dedicação, dessa mulher generosa e atenta às necessidades da família.
A sala aconchegante, o cheiro maravilhoso da mesa, as pessoas chegando, a doce receptividade dela, deixa em todos a sensação de estarem vivendo um momento ímpar de doação e amor. Um amor incondicional, um amor de mãe.

O evento já vai começar, vamos todos pra outra sala nos acomodarmos e assistirmos a defesa da tese de nosso jovem e inteligente mestrando.

A vida a cada dia nos oferece momentos deliciosos, mas, para saboreá-los precisamos estar atentos, sabendo identificar os valores, de fato, relevantes. Aquilo que vêem contribuir para nosso crescimento humano, aquilo que acrescenta e nos tornam pessoas mais felizes.
Agradeço a Deus o privilégio de poder compartilhar com vocês esse momento e a certeza de muitos outros que estão por vir.
Obrigada!!!

Celena Carneiro

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

CAGADO...

Em uma Escola de Educação Infantil, daquela periferia, um menino negro com mais ou menos quatro anos de idade, ficou mais de uma hora dentro do banheiro, aguardando uma pessoa para lavá-lo, pois, teve dor de barriga e fez cocô na roupa, dentro da sala de aula.
A professora Fátima procurou a diretora Carmem para solucionar o grande problema, pois, ela, como professora, não iria lavar o garoto.
A diretora Carmem saiu pela escola à fora procurando a faxineira Marieta, para ir lavar o garoto.
A faxineira Marieta esquivou-se dizendo que tinha muito trabalho e não era sua função dar banho em criança, principalmente, estando essa criança cagada.
Enquanto isso o garoto continuava lá no banheiro, esperando...
Rapidamente a notícia se espalhou, num instante toda a escola sabia que havia um menino sujo de merda dentro do banheiro.
Marta estava preparando a sala de repouso para suas crianças dormirem, após o almoço, quando a tia Salete chegou e contou-lhe o que estava acontecendo, disse ainda, que não iria limpar o menino, porque estava em seu horário de almoço.
Imediatamente, Marta, penalizada e indignada, foi em socorro da pobre criança, que estava todo aquele tempo fechado dentro do banheiro.
Ao entrar no banheiro, encontrou-o agachadinho no canto, os belos olhos negros apavorados, parecia um animalzinho ferido e, estava mesmo muito ferido.
Enquanto dava-lhe o banho, Marta tentou amenizar sua dor falando-lhe com carinho e cumplicidade, até inventou que uma vez, quando era criança, também fez cocô na roupa dentro da escola.

CAGADO

Quando sua barriga doeu e,
o intestino desarranjou
não teve tempo de ir ao banheiro,
na sala de aula esmerdiou.

A professora ficou enojada,
tapou o nariz, a testa franziu
o cheiro fétido das fezes,
toda sala sentiu.

Sua pele negra empalideceu,
parecia um bichinho acuado
uma lágrima, em sua face correu,
ao ver que estava todo cagado.

Envergonhado pelo sarro dos colegas,
a algazarra que a situação provocou
foi deslizando até o banheiro,
deixando em sua passagem
um rastro de cocô.

Quando, finalmente, foi socorrido,
por uma tia gentil,
que o lavou com carinho,
um alívio enorme
seu coração sentiu.


Celena Carneiro

sábado, 19 de dezembro de 2009

ÚLTIMA CANTIGA DE NINAR

Naquele dia Júlia havia deixado sua bicicleta em casa, precisava passar no supermercado após o trabalho.
Quando entrou no ônibus com as sacolas abarrotadas de compras, que o peso fazia com que as alças provocassem em suas mãos um vergão vermelho, procurou com os olhos, aflitos, um banco para sentar. Mas, percebeu que seria inútil alimentar essa esperança, ainda mais naquele horário da noitinha, em que todas as pessoas, como ela, estavam retornando para suas casas, após um estafante dia de trabalho.
Júlia procurou ajeitar as sacolas da melhor forma possível junto às pernas, no assoalho do ônibus, segurando em uma das mãos, aquela que continha ovos e a bandeja de iogurte. Com a outra mão tentava segurar-se nas poltronas dos passageiros, que a olhavam com um certo aborrecimento por se sentirem incomodados.
Em uma freada mais brusca, uma lata de extrato de tomate acompanhada de laranjas e cebolas saem rolando pelo corredor apertado, entre os pés das pessoas. Júlia agradece a cooperação de um ou outro passageiro que consegue interromper a fuga de suas mercadorias, ajudando-a colocar novamente na sacola.
Em casa as crianças fazem a festa, vendo as compras. Como é bom vê-los abrindo as sacolas, felizes, confiantes no que vão encontrar.
___ Que legal! A mamãe trouxe iogurte, vamos ter sobremesa após o jantar.
___ Não. O iogurte é pra gente tomar no café da manhã, não é mamãe?
___ Oba! A mamãe trouxe sucrilhos, eu adoro sucrilhos.

Júlia já está no fogão preparando o jantar. As mãos ainda doloridas, lavam com amor e rapidez os legumes, corta o frango em pedaços menores, descasca o alho, amassa e coloca na panela. Ah! É maravilhoso o cheirinho de alho fritando no azeite, trazendo aquela sensação de bem estar e abundância. Aquece a casa, além disso, fortalece as crianças, evitando os resfriados.
Júlia é uma mulher forte, se não fosse tinha que ser e, isso pra ela bastava. Sua fortaleza vinha daqueles momentos em que via seus filhos se alimentarem, sabia ser responsável por aquelas vidas, o alimento aquecia seus corpos e suas almas.

___ Venham escovar os dentes. Depois quero ver os cadernos, onde estão as lições de casa? E os uniformes. Deixe-me ver. Nossa! Como essa camiseta está suja! Vou lavar e secar no ferro amanhã de manhã, antes de ir trabalhar. ___ Olhe as orelhas no caderno, a professora vai ficar brava. ___ Faça a letra assim mais redondinha. Muito bem sua redação está linda!

___ Vamos crianças, coloquem os pijamas enquanto a mamãe vai tomar banho, quero ver a novela.
___ Mas, mamãe, você nunca consegue assistir a novela, todo dia dorme no sofá.
Ela sabia que eles tinham razão. Como gostaria de ver televisão, conversar mais com eles, brincar um pouco. Ó, Deus! Estou perdendo a infância de meus filhos! Culpa. Sentia-se culpada. Mas, com esse sentimento não conseguiria criar seus filhos. Eles precisavam de alimento, cama com lençóis limpos e cobertores para aquecer seus pequenos corpos. Sim, eram motivos justos, prementes. Engoliu o soluço, tinha que ser assim.

___ Mamãe acorda, vamos pra cama, seu pescoço vai ficar doendo aí no sofá, venha. As pequenas mãos tentavam levantá-la do sofá.
Essa rotina noturna confortava um pouco a exaustão de seu corpo. Gostava dessa preocupação carinhosa dos filhos e, às vezes, fingia continuar dormindo para prolongar esse momento de íntima felicidade.

Júlia deu corda no despertador, acertou o horário e o colocou dentro de um caldeirão de alumínio. Essa era uma tática para aumentar o ruído da campainha ao despertar e ela acordar, sem perder a hora.
Para chegar ao trabalho, às cinco horas da manhã, tinha que levantar-se com uma hora e meia de antecedência. Preparar o café da manhã das crianças, o almoço, passar os uniformes e, finalmente, percorrer em sua bicicleta os quatro quilômetros de estrada, até a firma onde trabalhava.
Entra no quarto das crianças, pé ante pé, estão em profundo sono. Um beijo em suas frontes, uma ajeitada nas cobertas, uma oração, um pedido de proteção.
Já na estrada em sua bicicleta, para aliviar o medo na escuridão da madrugada, Júlia vai pedalando e cantarolando a cantiga de ninar que não deu tempo de cantar para seus filhos, desejando que eles não acordem, dando por sua falta e sintam medo.
A chuva fininha que começa a cair, misturam-se às lágrimas que teimam em rolar por sua face, de repente uma buzina, uma luz forte, ofuscando ainda mais seus olhos, um caminhão, as freadas, os enormes pneus. Ó, Deus! Meus filhos. Que será de meus filhos...
Acabou. Tudo agora é silêncio. Um profundo silêncio.




Celena Carneiro

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

VOLVER...

Volver, se refere ao retorno a terra natal, a longa e cansativa viagem de volta, aquela estrada que parecia interminável, vista da boléia do caminhão que trazia a mudança, minhas panelas, meus livros e camas, para o novo lar, nova vida. A ânsia e expectativa da volta, as lembranças, as saudades, os cheiros, foram as inspirações para essa poesia...

Faltavam poucos quilômetros.
Finalmente estava chegando à Uberlândia!
Após alguns anos ausente, enferma de saudade,
já antegozava a beleza daquela paisagem,
paisagem tão amada da terra oriunda,
a terra que só soube amar, após deixar...
O peito parecia diminuir,
enquanto o coração crescia,
era como se a qualquer momento,
fosse quebrar as amarras de sua cavidade,
desprendendo-se da vida,
por não dar conta da emoção...

Já quase podia sentir o cheiro da terra,
com suas misteriosas matas,
levemente cobertas pelo rubro pó
do chão estorricado pelo estio...
As árvores desfolhadas, os troncos nus,
soltando as cascas num estalo seco e,
quando vem a chuva, emana de suas entranhas,
o perfume dos Deuses...

Do âmago de meu ser, crescia o anelo,
de embrenhar seus mistérios,
a vegetação aérea do cerrado,
com árvores de galhos tortuosos,
intercalando-se com as ervas daninhas rastejantes,
das Maria-fecha-a-porta, aos Anis picantes...
As nascentes de água cristalina,
deitadas em pedras pontiagudas,
uniformemente irregulares,
revestidas pelo grosso lodo do tempo,
brotadas de vida verdejante...

Num emaranhado de reminiscências,
em minha memória desfilam cenas da infância,
os longínquos belos dias do nada fazer,
do nada pensar, do nada sofrer, feliz só ser...
Andar descalça no capim morno molhado,
o mais puro deleite...
Rodar os pés na lama quente, fazendo círculos,
para atrair de novo o sol, mandando embora a chuva...
Os piqueniques domingueiros,
colher e comer os frutos silvestres,
a Gabiroba mais doce, e quase se entalar,
com o concentrado Jatobá...
As brincadeiras de Tarzan,
trepar suas árvores, improvisar o cipó,
se soltar no espaço, cair e se esfolar
ao desatar o nó...

A brisa morna batendo em meu rosto,
traz-me de volta a realidade,
fazendo-me estremecer de alegria.
Cheguei!!!
Já não é mais um sonho,
retorno agora às minhas raízes.
Por favor, terra querida,
acalente-me em teu seio,preciso ancorar em teu regaço...
Celena Carneiro

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

SOBRE UMA AULA DE HISTÓRIA...

A professora falava sobre a História da Educação no Brasil, desde o Período Colonial. Uma aula tremendamente enfadonha, onde a professora fazia comparações depreciativas do Brasil em relação à Europa. A aula foi se arrastando, pateticamente, e essa professora, com um discurso decorado e, repetitivo, de que precisamos formar cidadãos críticos, ia desfiando criticas ao nosso país. Fiz alguns questionamentos em defesa do Brasil, disse que não concordava com as absurdas comparações de nossa história com a cultura milenar européia. História é experiência de cada um, de cada povo, não pode ser comparada.
A professora distorceu minhas palavras e, na seqüência da aula, por varias vezes, ela fez alusões irônicas aos meus comentários, como se eu não soubesse ou estivesse iludida, com relação ao processo degradante pelo qual passamos, na época de nossa colonização.
Os portugueses, todos sabem, quando chegaram ao Brasil dizimaram nossos índios, roubaram nossas riquezas, fomos explorados, escravizados, violentados barbaramente, portanto, não posso concordar que em uma sala de aula, em um curso de pedagogia, uma professora, ainda hoje, fique tentando nos inferiorizar. Isso não é querer formar cidadãos críticos, mas sim tentar diminuir, ainda mais, a auto-estima, daqueles que se deixam influenciar por esse tipo de argumentação nefasta, achando que denegrindo a imagem de nosso país, justifica a má qualidade da educação que é aplicada em nossas escolas.
Eu não trabalho na educação, ou melhor, não trabalho em escolas, porque com a educação, de uma forma ou de outra, todos nós trabalhamos e, como educadora percebo que, existem professores muito despreparados para lidar com a educação, com essa mania de estrangeirismo, sempre fazendo comentários avacalhando o Brasil, incutindo essa educação perversa de rejeição nas crianças, que já vão crescendo renegando a própria pátria, preconceituosas e com baixa auto-estima.
Temos inúmeros problemas no Brasil, não estou querendo florear nossa realidade, tenho consciência de nossas mazelas, e, sei, também, que não é privilegio apenas nosso, toda nação tem as suas, mas, acho que um educador precisa ter o cuidado, o discernimento e, afeto ao lidar com seus alunos. Não é justo ferir, destruir a dignidade e o sentimento de pertencimento, que toda pessoa traz em sua essência.
Somente com respeito e ética, podemos formar cidadãos críticos e conscientes de sua história, sem omitir a verdade, mas, informando com sensibilidade.
O professor ao contar nossa história para os alunos, precisa ter uma postura digna, falar das atrocidades que sofremos ao longo desse primeiro período, mas, dar ênfase ao nosso poder de recuperação e coragem para vencer os obstáculos.
Falar de nossos heróis, de nossas potencialidades, de nossas belezas. Despertar nesse aluno o orgulho de ser brasileiro, o amor pela sua terra. Essa professora precisa rever seus valores, principalmente com relação à educação, antes de ir para uma sala de aula, de futuros educadores, pessoas que vão lidar com crianças, com adolescentes e jovens, pessoas que estão ali com idéias de mudanças, cheias de sonhos, fazendo planos, projetos, entusiasmadas e, de repente, chega uma professora desestimulada, sem idealismo, jogando fel por onde passa, com sua amargura.

Celena Carneiro

sábado, 12 de dezembro de 2009

SOBRE LEITURA...

Nossa cultura não prioriza o livro como presente em aniversários, finais de ano ou outras datas comemorativas e isso precisa mudar. Precisamos aprender a presentear as pessoas, desde criança, com livros, demonstrando como esse é um presente valioso.
A infância é o melhor momento para que possamos criar o hábito da leitura na criança e incentivar seu interesse pelo livro, portanto, é de suma importância que pais e professores incluam o livro no dia a dia da criança. Mesmo que ela ainda não esteja alfabetizada, a linguagem visual é anterior à linguagem falada e escrita. A linguagem ilustrada leva a criança a interpretar o texto, complementando e enriquecendo a historia. Pela imagem também se pode ler várias historias, uma imagem gera inúmeros entendimentos e a criança se diverte com isso, ficam inventando e reinventando histórias.Esse
Na leitura, por meio dos sentidos, a criança é atraída pela curiosidade, pelo formato, pelo tato, pelo manuseio fácil e pelas possibilidades emotivas que o livro pode conter, estimulando nos pequenos a descoberta de segredos inimagináveis.
Os primeiros contatos com o livro despertam na criança o desejo de concretizar o ato de ler o texto escrito, facilitando o processo de alfabetização.
O som, as rimas, o ritmo, as sensações e imagens presentes na poesia, despertam grande interesse nas crianças. As contações de história possuem uma magia que sensibiliza a imaginação infantil e, por toda sua vida ela se lembrará daquele inicio de toda história. Era uma vez...

Celena Carneiro

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

SOBRE AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO...

A afetividade nas relações dentro da sala de aula, notadamente, entre professor/aluno é muito marcante. Essas impressões afetivas podem acompanhar o educando ao longo de sua vida, tanto no meio educacional, como para além dos muros escolares e irão influenciar na sua formação como cidadão, em toda sua amplitude humana.
Quando o educador olha seu educando como um todo a ser considerado, ele quebra o paradigma do relacionamento formal e cria um relacionamento interpessoal, transportando para a educação esta convivência, promovendo uma aprendizagem significativa e qualitativa.
São observações que nos levam a delinear um novo caminho, certamente trabalhoso, mas, repleto de esperança e conquistas. A teoria de Carl Rogers, convida todos a refletir sobre as profundas mudanças necessárias na educação.
"Por aprendizagem significativa entendo uma aprendizagem que é mais do que uma acumulação de fatos. É uma aprendizagem que provoca uma modificação, quer seja no comportamento do indivíduo, na orientação futura que escolhe ou nas suas atitudes e personalidade. É uma aprendizagem penetrante, que não se limita a um aumento de conhecimentos, mas que penetra profundamente todas as parcelas da sua existência." Rogers, in Tornar-se Pessoa, 1988, editora Martins Fontes.

Celena Carneiro

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

SOBRE PALAVRAS...

Magia, esse é o nome que se dá a esse sentimento arrebatador que toma conta de nossas emoções diante da palavra bem dita, bem escrita, bem direcionada. A força da palavra que conquista, que embriaga, que fascina as pessoas. Bendito aquele que sabe fazer uso da palavra, para o bem. A palavra, já disseram, é uma arma de sedução e, quem a usa se aprofundando e colocando a alma no que diz consegue tudo o que quer. É um código que quem domina sabe muito bem do seu poder de indução, de persuasão e essa linguagem não precisa ser sofisticada nem cheia de palavras pouco usuais, não, pelo contrário, tem que ser simples, corriqueira, usada em nosso cotidiano, o segredo está exatamente aí, na simplicidade, porque, caso contrário, não toca as pessoas, elas não se identificam porque foge as suas emoções.
A palavra mágica é aquela que conta histórias, histórias de vida que todo mundo tem, a história próxima da realidade e dos anseios de cada um, que falem de sonhos acalentados, de desejos reprimidos, de aventuras idealizadas. O maior homem que passou pela terra, se imortalizou porque sabia contar histórias. Usou a palavra para instigar as pessoas a pensarem, disse coisas que elas nunca tinham ouvido, mas, sentiam e não sabiam exprimir. Então Ele veio e falou por parábolas aquilo que elas já sabiam, tinham em seu recôndito mais profundo da alma, por essa razão muitas choravam e ainda choram porque foram e são tocadas, ainda hoje, pela Sua palavra.
A palavra é magia, sedução e deve ser verdadeira, porque caso contrário não contamina, não alcança a sensibilidade humana. Não importa o que se diga, se for acompanhado de emoção alcançará o outro, é só pensarmos em nós mesmos, o que gostaríamos de ouvir, quais são nossos anseios, nossos sonhos, nossos desejos mais íntimos? Falemos deles com todo sentimento e verdade que atingiremos os outros, pois, estaremos falando de ser humano para ser humano, com os mesmos sentimentos, as mesmas mazelas, as mesmas alegrias, as mesmas complexidades, as mesmas contradições e incoerências, mas, em comum o desejo de ser feliz.
Vamos contar histórias, sem receios, desarmados, mostrando ao outro que somos diferentemente iguais, que isso é normal, vamos falar de quantas vezes sonhamos coisas que deram errado, quanta energia depositamos em projetos que vieram por água a baixo, quantas vezes fomos influenciados pela má palavra que pregava apenas vantagens próprias e a gente se deixou enganar, mais uma vez, pra depois tirar os ciscos dos olhos e ver, sem entraves, como tudo aquilo não tinha importância, e, aí, aprendemos da forma mais dolorosa que nada daquilo tinha fundamento, realmente não importava.
Estamos fazendo a história aqui e agora e precisamos ter essa consciência, a história se faz em todos os lugares, principalmente, nos locais mais humildes, nas favelas, nas escolas públicas, nas fábricas, nas casas de prostituição, nos lixões, enfim, onde está a vida, e, ou, a vontade de viver.

Celena Carneiro

domingo, 6 de dezembro de 2009

VENTANIA

Aqui sentada em minha mesa,
imersa em meus pensamentos
envolvida em mansa solidão literária,
rabiscando uma nova poesia,
só ouço a voz do vento
que assovia lá fora na escuridão,
querendo entrar.

Bate em minha janela e uiva
como se quisesse me falar, ou, quem sabe
algum recado de um amor antigo me passar,
ou, talvez alguém que ainda virá.
O que será que esse vento quer me contar?

Penso em abrir uma fresta e por ela espiar, mas, hesito
tenho medo que esse vento forte
entre abruptamente a me assolar
desnudando minha alma, revelando meus segredos,
coisas que não quero pra ninguém contar.

Apuro meu ouvido,
tento entender sua mensagem,
seu jeito louco de se comunicar,
minha janela está trepidando
o trinco enferrujado pelo tempo
parece que dessa vez não resistirá.

Num ato de coragem começo a abrir uma aba
levo uma pancada em plena face,
a janela foi toda por ele escancarada,
entrou atrevido jogando-me ao chão
me arrancando um grito de dor e estupefação
aturdida e indefesa,observo sua devastação.

São papéis que voam da mesa
jornais e revistas em redemoinho
quadros caindo das paredes e, meus livros,
ai, meus livros,
caindo da velha estante como cadeias de dominó


Ah, vento maldito!
Não deixarei que minha fortaleza você venha ruir,
eu preciso me erguer e te expulsar
mandar-te embora daqui
pelo seu ulular lamentoso, não mais me deixarei iludir

Trêmula e desfacetada ,
com os cabelos desgrenhados,
mal conseguindo abrir os olhos
em um esforço supremo, empurro a janela
ah! Consegui! Ele foi embora,
deixando seu rastro destrutivo
em todos os cantos da sala.

Fico paralisada por alguns momentos
não choro, não consigo chorar
passo as mãos arrumando os cabelos,
esfrego os olhos tentando limpar,
até parece que estou aliviada
como se esse furacão
deixasse-me catarseada
sentindo até vontade de rir
e cantarolar uma canção

Começo a catar meus cacos, lentamente,
tentando me reorganizar, aproveito e vou,
até, mudando algumas coisas de lugar
revejo anotações antigas
guardo o que ainda vou aproveitar
jogo no lixo o que me magoou
revivo fatos já esquecidos
aspiro o cheiro das esperanças mofadas
descubro emoções contidas nas entrelinhas
em bilhetes e cartas trocadas
de amores que no passado ficou.

Acho que era esse o recado do vento
agora entendo sua linguagem
você queria minha vida futricar,
remexer,
fazer o maior alvoroço, e assim
com seu jeito nada sutil,
me remoçar.

Celena Carneiro

sábado, 5 de dezembro de 2009

SOBRE ESCREVER LIVROS...

O papel do livro é levar os saberes, a informação e mexer com os sentimentos das pessoas, descortinando novos horizontes e nos enriquecendo um pouco mais.
O livro se perpetua através dos tempos, registrando a vida da humanidade. Já foi temido, proibido, já foi queimado, mas, sempre renasceu das próprias cinzas, como Fênix, e continuará fazendo a história, se adequando dentro da era tecnológica, mas, insubstituível.
Quando pegamos um livro e adentramos suas páginas o milagre se faz, encontramos um mundo mágico, algo que nos transforma, que nos leva em uma viagem para dentro de nós mesmos, sabemos que quando retornarmos nunca mais seremos os mesmos, algo foi acrescentado e é indivisível, só pertence a nós. Podemos viajar também para outros lugares, os mais longínquos, nos deixamos levar pelo autor, o nosso piloto, nosso guia com o qual estabelecemos um pacto de confiança. O escritor sabe das transformações que o livro faz na vida das pessoas, porque antes mesmo de escrever ele é um grande leitor e já foi fisgado, há muito, por esse mundo mágico das letras, é um amante das palavras.
A grande poetiza, Cora Coralina, do auto de sua sabedoria, dizia que o escritor deve falar de coisas simples, contar histórias próximas de sua própria realidade, pois, existe um universo a ser descoberto em cada pessoa.

Celena Carneiro

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Rita Queria Dormir

“E, aí, ela se foi. Ó, Deus! Ela estava aqui ainda há pouco. Ainda sinto a leve pressão de sua mãozinha na minha”.

Fui eu que a conduzi, que acompanhei seus últimos passos, troquei seu vestidinho de caipira, sujo de molho de tomate do cachorro quente, coloquei-lhe a camisola, tirei seu chapéu, lavei seu rosto e suas mãozinhas meladas de doce. Será que lhe dei um beijo de boa noite? Não me lembro. Devo ter dado, é um hábito, eu sempre a beijo quando a ponho na cama e digo pra dormir com Deus.
Ó, Senhor! Como eu podia imaginar que estava colocando minha filhinha pra dormir pela última vez? Porque não me deste uma luz, um sinal, meu Deus? Ela estava tão feliz na festa junina. Brincou, pulou, dançou, por isso se cansou tanto e pediu-me para levá-la pra casa. Estava com sono a minha princesa. Ah! Como ela estava linda com aquele chapéu de fitas vermelhas!
Era uma noite festiva, aguardamos muito por esse dia, preparado com muito carinho. As bandeirinhas coloridas, os doces, a pipoca, o cachorro quente, as brincadeiras. Eu dancei quadrilha com as crianças, acho que foi por isso que me descuidei. Quando estamos felizes não conseguimos detectar os perigos que nos rodeiam. Ficamos como que dopados pela endorfina que corre pelas nossas veias, é como se estivéssemos imunes à dor.
Começou a chover, fazia frio, já era mesmo hora de subir para o apartamento, a festa foi linda, mas, estávamos todos cansados. Rita ficou deitada quietinha, parecia já em sono profundo, então desci pra buscar minha outra filha, foram poucos minutos e logo retornei.
O que encontro? As luzes acesas, a cama desfeita, onde está a minha filha? Rita sumiu.
Ó, Deus, será que ela subiu no banquinho e passou pelo buraco da rede de proteção da janela? Não pode ser, Senhor, eu não ouvi nada, nenhum grito, nenhum barulho. Quem sabe ela se agarrou em algo? Uma árvore! Uma árvore pode ter protegido minha filha. Uma vez vi uma reportagem sobre uma criança que caiu do apartamento e ficou presa em um galho que a salvou. Com minha filha também pode ter acontecido um milagre, ela deve estar salva. Mas, aqui não há árvores! Um carro! Quem sabe ela caiu em cima de um carro! Pode estar muito machucada, mas, viva! Sim! Minha filhinha pode estar viva! Deve estar com muita dor, mas, mamãe vai cuidar de você querida, a dor vai passar, vai passar...
O milagre não aconteceu. Rita estava lá, seu delicado corpinho estirado no chão sem vida. Ó, Deus! Deve ter-me chamado e eu não estava lá para protegê-la. Como agora vou sobreviver a dor de perder minha filha?
“Eu não matei minha menina, não. Pelo amor de Deus, eu não matei minha filha. Eu a amo de paixão. A minha Rita. Eu não matei minha filha, não, doutora”.
Desabafa Fátima, mãe de Rita de Cássia, uma menina de 5 anos que morreu no fim da noite do sábado (11/07/09) após cair do 5º andar de um prédio em Tomás Coelho, subúrbio do Rio de Janeiro.
São inúmeros os acidentes caseiros envolvendo crianças. Quedas, queimaduras, envenenamentos, choques elétricos, enfim, as tragédias são quase sempre fatais, deixando nos pais uma dor infinda, uma chaga que vai esvair sangue para sempre, sem jamais cicatrizar.


Celena Carneiro – Publicado no Jornal Correio de Uberlândia em 18/07/09

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

BARAK OBAMA

No mês em que Barak Obama, completa um ano de vitória nas urnas, venho postar o texto que escrevi na época e que foi publicado no Jornal Correio de Uberlândia, em 24/04/2009

Existe sonho impossível?

Talvez sim, para aqueles que apenas sonham e não estabelecem as ações, os projetos, as estratégias, para perseguir seus sonhos, aí sim os sonhos se tornam impossíveis. Mas, aqueles que sonham e acreditam em seus sonhos e caminham em busca de suas realizações, conseguem atingir suas metas. Esse é o exemplo que Barak Obama, o primeiro presidente negro eleito nos Estados Unidos da América, nos revela.
Quando alguém, em sã consciência, poderia imaginar que um negro, filho de um africano, poderia se tornar presidente da nação com o maior poderio militar e financeiro do planeta? Pois, no dia cinco de novembro de dois mil e oito, esse negro, Barak Obama, se tornou o homem mais importante do mundo. Parece impossível, mas, é verdade e diante desse fato, eu, que sempre achei que tudo nessa vida é possível, estou emocionada e feliz por ele, por mim e por milhares de pessoas, de todo o mundo, que hoje estão se olhando de modo diferente, orgulhosas, com a auto estima elevadíssima, alguns, ainda, se beliscando para se certificarem de que não é um sonho.
Conseguir se eleger presidente de um país, notadamente, um pais poderoso como os Estados Unidos, já é, por si só, uma grande vitória, um feito memorável. Mas, somando-se essa vitória, outra, tão ou mais grandiosa, como vencer o preconceito racial, o rancor dos conservadores, a sangrenta guerra do racismo é, simplesmente, incomensurável.
Obama fez os gritos de ódio e incredulidade dos racistas silenciarem na garganta, tiveram que engolir o fel da revolta e, oprimiram o próprio peito, com seus sentimentos nefastos, enquanto olhavam, estupefatos, o sorriso e as lágrimas redentoras dos negros de todo o mundo. Ouviam os tambores retumbarem o som da liberdade na distante África, embalando os negros corpos suados, em uma dança enlouquecida de felicidade, os poros esvaindo o prazer contido por séculos de dor.
Abençoado seja Barak Obama, o negro que começa a delinear a mais importante história moderna de nossa raça. Que seja uma história digna e valorosa, tanto quanto a que outros negros escreveram no passado e, não é por acaso, que sua vitória se deu no mesmo mês que reverenciamos nosso guerreiro Zumbi.
Que Oxalá te proteja Barak Obama! Que os Deuses de toda linhagem africana trilhem com você essa trajetória, inspirando-o nas tomadas de decisões, beneficiando, prioritariamente, os homens em sua dignidade humana.


Celena Carneiro

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Vida é poesia, sua vida é poesia, portanto, nesse blog você vai se identificar, se emocionar, em cada texto, pois, eles falarão de coisas muito próximas ao seu coração...
Você vai se sensibilizar com os conflitos que envolvem os indivíduos, em suas buscas, rupturas e desejos, desnudando esses sentimentos contraditórios, que permeiam a vida humana, ora como uma brisa suave, ora como um furacão destruidor...
Você vai experimentar emoções que te remeterá à situações, mesmo que ainda não vividas, você se deixará conduzir por esse caminho, vivenciando essas sensações, que são sentimentos inerentes ao ser humano.
As utopias, as crenças, as esperanças, o amor...

Celena Carneiro