terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O BRASIL COR DE ROSA

O Brasil está vestindo rosa desde o dia primeiro de janeiro de dois mil e onze.

Ainda preservo colados em minhas portas, janelas e na capa de minha agenda os adesivos da propaganda eleitoral de Dilma Rousseff. Durante o período pré eleições fui uma eleitora ativa e apaixonada. Consegui vários votos femininos pra Dilma, pois as mulheres são as mais resistentes para apostarem na mudança. Entendo que é cultural, algumas ainda permanecem subjugadas pelo domínio masculino, até gostariam de aceitar, mas muitas ainda não confiam no próprio poder.

E agora?

São muitas as expectativas, todos perguntam como Dilma vai governar? As cobranças e críticas serão inúmeras, como ela vai reagir?

Nós, mulheres, só temos um modelo: o masculino. Estamos nos reinventando, é a primeira vez que uma mulher chega ao mais alto posto político do país, o desafio de governar é enorme.

Com certeza ela cometerá muitos erros, como eles, os homens, também cometeram. Aprenderá com seus erros, como acontece com todos nós, a vida é assim. As cartas estão na mesa, os teóricos já estão com os dedos apontados, rodeando em cima do muro para assistirem se ela terá habilidade suficiente para manipula-las. Mas, Dilma gosta de dizer: A mulher pode!

As críticas já começaram, como aconteceu no programa Mais Você, de Ana Maria Braga, Rede Globo, em 04/01/2011, nos comentários das mulheres, Ana e Bete Lago. Elas fazem parte daquele grupo de mulheres que não entenderam e ainda não se deram conta dessa grande façanha, são muito superficiais para isso.

Ana perdeu uma boa chance de se posicionar seriamente conquistando com isso o respeito de inúmeras mulheres, mães de família, mulheres guerreiras que lutam para sustentar seus filhos, em vez disso levou ao seu programa uma mulher com opiniões fúteis, portanto com um olhar oposto ao que de fato importa.

E vejam só que ironia! O homem presente ao programa representou muito mais a mulher, quem diria!

Heraldo Pereira, um repórter negro, sério e competente, que aliás a Ana elogiou por estar substituindo um branco no Jornal Nacional, quanta honra!!!

Foi maravilhoso ouvi-lo dizer que se orgulha de ser negro e de suas raízes humildes. Heraldo foi de uma dignidade emocionante, elogiando a nossa presidenta, falou que admira sua postura e sensibilidade.

Enquanto isso era chamado de muito bonzinho pela Ana Maria, que não teve sabedoria, nem conseguiu descer de seu pedestal soberbo para entender a postura daquele homem, que na verdade, estava assumindo o seu papel, enquanto mulher.

Ana e Bete continuaram criticando o modelito da presidenta, o seu jeito de andar, as gafes, enfim, coisas que o homem presente em nenhum momento mencionou, foi vergonhoso.

Com tantas mulheres inteligentes e com criticidade em nosso país, Ana Maria tinha que levar como convidada a Bete Lago, para juntas ficarem tripudiando nossa presidenta. Na verdade, não sei porque eu ainda fico indignada, já deveria saber disso, não posso exigir que toda mulher entenda esse imensurável feito que Dilma conseguiu, elevando nossa auto estima e condição feminina.

Entretanto, apesar da ignorância delas, também, serão representadas e respeitadas por nossa presidenta, que em seu discurso de posse, emocionada, prometeu governar para todos os brasileiros.


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Pequena Resenha Crítica

Por: Silas Correa Leite

O Belo Romance de Estréia “MORDE NA BOLACHA JUNTO COM A GOIABADA” de Celena Carneiro

A razão de existir

Uma revolta humanista

Albert Camus


-Romance de estréia... romance de estréia... sempre dá um frio na barriga, quando você lança um, quando você sabe de um. Como escrevo e, por assim dizer, sinto na pele a dor do outro, quando pego o romance de estréia de um autor novo, fico só sondado, no devir o que pode ser a baita sorte de acertar na mosca, quero dizer, na obra, e, a até natural forçada da barra do lançamento imaturo ou incompleto da obra que acaba também por assim dizer sendo um tiro no pé. Medidas as proporções, tendo em vista inclusive o próprio currículo da autora, fui a luta, quero dizer, dei uma bela pegada no romance “Morde na Bolacha Junto Com a Goiabada”, Edibrás, Uberlândia, 2010.

Surpresa!

-O romance está muito bem escrito, ainda que comedido, mesmo assim avança tranqüilo e com qualidade narrativa, na construção de personagens. A pacata vidinha de uma dona de casa, as filhas, o marido que aprende a tocar violão e muda tudo, pondo musica nos atos e no modo de pensar. Vila da Aranha e os arremedos do historial.

Rita e Hilda e Miguel. Pra começar. E o entorno, acontecências interioranas, cidade pacata, vida humilde. Tudo começa como um remanso de águas, a contação vai entrando no âmago de cada momento, parágrafos, inimizades, prismas. A primeira morte que é para sempre. O primo visitante que finca pé nas entranhas da história. A história sendo costurada evolui. Bolacha com goiabada é o mote. E um sinal. Um marco.

Rita que fazia poesias, que andava sem calcinha, que enreda tudo no entorno. Olhos, janelas, a mãe e a dura sobrevivência possível. História de interiores, aqui e ali levantando véus, panos. Idas e vindas. Retalhos de sentir. Ah as colchas de retalhos da vida desses brasis gerais de tantos contrastes...

O pai e o pano de fundo dos arremedos ditatoriais. O pai que some de circulação. Bolinhos de chuva, bolinhos de arroz, bolinhos de lágrimas. O amor e suas contradições. O chuchuzeiro sobre o poço perigoso. Cisternas íntimas. A máquina de costura da mãe e os panos pretos da vida triste. Narrativas lambendo paredes, íntimos, afetos e incompletudes. Cercanias e o amor que foi embora e deixou barriga e filho.

E conta:

“Rita sente vontade de rir, agora a vida ia ser diferente e ela queria uma cesta igual aquela em seu casamento.

O primo já teria servido o exército, estaria trabalhando em alguma fábrica daquelas que estavam abrindo no setor industrial e ela continuaria costurando.

Juntos ganhariam muito dinheiro e então...

Seus pensamentos são interrompidos pela chegada de Mário, ele tinha ido cedo para o quartel e disse que voltaria somente a notinha”

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E Celena Carneiro vai contando, pondo os olhos e os pés da gente na história que corre como um rio-romance.

O amor que se perdeu, a paixão que desertou do Exército em tempos tenebrosos. A guerrilha. Os campos do longe. As olhações no entorno. Você vai de bubuia nos causos e enredar deles na construção da obra.

Quando você lê, afinando a leitura, vê que a história refina-se e você passou da metade, dentro do mundo criacional da autora com boa mão conduzindo seus olhos, suas pensações, seu lado sentidor. Tudo tem cabimento. A vida o que é? Década de cinqüenta, de sessenta. Sofrências. Não é sempre assim, essa gente-humana desses cantões de um Brasil que fica num longe que nem cabe em nós, que nem sempre sabemos, que nem sempre achamos, sentimos, sacamos? Viver não é pré-pago.

Cadê o pai? Cadê vida? Cadê o amor? Cadê a esperança? Um dia as coisas mudam, ou nós nos mudamos das coisas? É preciso retratar esses tempos de penúrias. Dar testemunho.

Com uma gostosa linguagem de crônica, “Morde na Bolacha Junto com a Goiabada” é o romance de estréia de Celena Carneiro. E ela estréia bonito, com sua prosa bonita, aprumada, feitio e feminilidade de olhares como agulhas cerzindo situações, momentos e clarificações.

E quando você chega ao final das 148 páginas, os caminhos se entrecruzam, os desfechos vão se somando, se aprumam, tudo o que resta é o prazer de ter lido e a vontade gostosa de ter estado no prazer da leitura. O grande amor da vida tem uma benção: sobreviver para contar.

As palavras como um conjunto de linguagem que representa a dignidade humana. Resistir. E a arte como libertação do ser de si. O livro de estréia de Celena Carneiro, “MORDE NA BOLACHA JUNTO COM A GOIABADA”, põe açúcares e cores no prazer do ler gostoso da gente, pelo belo confeito de escrever da autora.

Silas Correa Leite

E-mail: poesilas@terra.com.br

www.portas-lapsos.zip.net

Autor de Campo de Trigo com Corvos, Contos, Editora Design, SC

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A MÍDIA COMERCIAL EM GUERRA CONTRA LULA E DILMA

por Leonardo Boff

Sou profundamente a favor da liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o “silêncio obsequioso”pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o “Brasil Nunca Mais” onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.

Esta história de vida, me avalisa fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a midia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de idéias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.

Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando vêem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como “famiglia” mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos do Estado de São Paulo, da Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e xulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico, assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem deste povo. Mais que informar e fornecer material para a discusão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.

Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido à mais alta autoridade do pais, ao Presidente Lula. Nele vêem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.

Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.

Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma) “a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e nãocontemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo, Jeca Tatu, negou seus direitos, arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação, conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que contiua achando que lhe pertence (p.16)”.

Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles tem pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascedente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidene de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.

Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados de onde vem Lula e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coroneis e de “fazedores de cabeça” do povo. Quando Lula afirmou que “a opinião pública somos nós”, frase tão distorcida por essa midia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palavra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.

O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no Governo, operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar de vida.

Outro conceito innovador foi o desenvolvimento com inclusão soicial e distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituidas e com salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no Governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.

O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, o fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela VEJA faz questão de não ver, protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.

O que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocoloncial, neoglobalizado e no fundo, retrógrado e velhista ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes.

Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das má vontade deste setor endurecido da midia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.

*teólogo, filósofo, escritor e representante da Iniciativa Internacional da Carta da Terra.

sábado, 25 de setembro de 2010

O BRASIL, PÓS LULA

Celena Carneiro

O Brasil pós Lula será o Brasil governado por Dilma Rousseff, a primeira presidenta de nosso país.

Lula chegou quebrando paradigmas, sendo o primeiro presidente sem formação universitária, sofreu com a critica impiedosa de seus fúteis carrascos, mas foi o melhor presidente de nosso país em tempos modernos, na era digital, informatizada e global.

Os anteriores possuíam formação universitária e o que fizeram pelo social? O que fizeram pelo povo que os elegeram?

Lula demonstrou ao longo de seu governo que a pessoa sem formação acadêmica, pode ser mais humana, ainda não se perdeu pelos caminhos teóricos e pouco consistentes da academia.

A instrução universitária é importante?

Sim. Muito importante.

Mas, em casos específicos, como do nosso presidente, não.

Essa formação ele a possuía, está interiorizada em sua essência iluminada e aí, a gente se pergunta, de onde veio?

Veio da experiência sofrida, onde tudo faltou e ele conseguiu torcer esse lençol de negatividade até sua última gota. De repente, pingou sua verdadeira essência, a humana.

O Brasil pós Lula é um povo mais fortalecido, com comida na mesa, crítico, não se deixa mais levar pela conversa enganadora da maioria dos políticos.

Nosso povo não mais se ilude com o discurso decorado dessa elite nefasta, que não mudou a cara, enquanto nós, eleitores, mudamos.

Outrora éramos paus bem mandados que faziam o que eles queriam. Hoje, temos maioridade de voto, somos eleitores experientes, percebemos em nossas narinas, abertas por Lula, onde está a podridão.

A carniça está nesses falsos políticos, sim, falsos, porque Lula nos ensinou até o que é a política, o que é confiável, portanto, podemos detectar à distância o mau cheiro desses hipócritas, que em épocas de eleições aparecem.

Entram em nossas casas mostrando em suas propagandas eleitoreiras, a cara daqueles que durante todo o processo não existiram, sempre estiveram à margem da sociedade.

Esse jogo político, vem com o único intuito de nos ludibriar, buscando uma chantagem emocional, tentando uma identificação com nossos sentimentos e desejos.

Lula não precisa fazer esse jogo, ele apenas nos fala, do jeito que sentimos e entendemos. Seus adversários e críticos ainda não abandonaram a soberba para entenderem o segredo desse homem.

Pois, eu lhes digo: É nato.

Só possuem essa dignidade aqueles que vivem e sentem o que transmitem. Está na alma, não é inverdade, nós a reconhecemos. Está além da aparência, no âmago dos sentimentos.

Lula, mesmo que não tenha essa formação dos bancos universitários, a possui. Ele sabe todas elas, com a vantagem de conhecer, também, a essência humana, a matéria da qual somos feitos, ou seja, a dele próprio, com sonhos, desejos e lágrimas.

Esses adversários que ele enfrentou e venceu ao longo de seu mandato, ainda não superaram a própria arrogância e estupefação e, com isso não aprenderam nada. Não entenderam que nós, eleitores, mudamos com a Era Lula. Nunca mais seremos manipulados por essa corja de inimigos do Brasil.

O povo brasileiro, hoje, possui, graças a Deus, o poder do voto para demonstrar toda sua repugnância, sua indignação, a todos vocês traidores da pátria, cínicos inimigos do povo, exploradores da credulidade humana, que só, tão somente só, almejam a ascensão material, roubar a confiança e os míseros benefícios que alguns possuem, enquanto a grande massa desfalece, perdem sua vida, sua dignidade.

O Brasil, pós Lula, é uma nação composta por indivíduos com maior criticidade que, felizmente, conseguiram aprimorar o olfato e cheirar onde está a putrefação.


sábado, 18 de setembro de 2010

O FIM DE UM CICLO EM QUE A VELHA MÍDIA FOI SOBERANA

Luis Nassif

Dia após dia, episódio após episódio, vem se confirmando o cenário que traçamos aqui desde meados do ano passado: o suicídio do PSDB apostando as fichas em José Serra; a reestruturação partidária pós-eleições; o novo papel de Aécio Neves no cenário político; o pacto espúrio de Serra com a velha mídia, destruindo a oposição e a reputação dos jornais; os riscos para a liberdade de opinião, caso ele fosse eleito; a perda gradativa de influência da velha mídia.
O provável anúncio da saída de Aécio Neves marca oficialmente o fim do PSDB e da aliança com a velha mídia carioca-paulista que lhe forneceu a hegemonia política de 1994 a 2002 e a hegemonia sobre a oposição no período posterior.
Daqui para frente, o outrora glorioso PSDB, que em outros tempos encarnou a esperança de racionalidade administrativa, de não-sectarismo, será reduzido a uma reedição do velho PRP (Partido Republicano Paulista), encastelado em São Paulo e comandado por um político – Geraldo Alckmin – sem expressão nacional.
Fim de um período odioso
Restarão os ecos da mais odiosa campanha política da moderna história brasileira – um processo que se iniciou cinco anos atrás, com o uso intensivo da injúria, o exercício recorrente do assassinato de reputações, conseguindo suplantar em baixaria e falta de escrúpulos até a campanha de Fernando Collor em 1989.
As quarenta capas de Veja – culminando com a que aparece chutando o presidente – entrarão para a história do anti-jornalismo nacional. Os ataques de parajornalistas a jornalistas, patrocinados por Serra e admitidos por Roberto Civita, marcarão a categoria por décadas, como símbolo do período mais abjeto de uma história que começa gloriosa, com a campanha das diretas, e se encerra melancólica, exibindo um esgoto a céu aberto.
Levará anos para que o rancor seja extirpado da comunidade dos jornalistas, diluindo o envenenamento geral que tomou conta da classe.
A verdadeira história desse desastre ainda levará algum tempo para ser contada, o pacto com diretores da velha mídia, a noite de São Bartolomeu, para afastar os dissidentes, os assassinatos de reputação de jornalistas e políticos, adversários e até aliados, bancados diretamente por Serra, a tentativa de criar dossiês contra Aécio, da mesma maneira que utilizou contra Roseana, Tasso e Paulo Renato.
O general que traiu seu exército
Do cenário político desaparecerá também o DEM, com seus militantes distribuindo-se pelo PMDB e pelo PV.
Encerra-se a carreira de Freire, Jungman, Itagiba, Guerra, Álvaro Dias, Virgilio, Heráclito, Bornhausen, do meu amigo Vellozo Lucas, de Márcio Fortes e tantos outros que apostaram suas fichas em uma liderança destrambelhada e egocêntrica, atuando à sombra das conspirações subterrâneas.
Em todo esse período, Serra pensou apenas nele. Sua campanha foi montada para blindá-lo e à família das informações que virão à tona com o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr e da exposição de suas ligações com Daniel Dantas.
Todos os dias, obsessivamente, preocupou-se em vitimizar a filha e a ele, para que qualquer investigação futura sobre seus negócios possa ser rebatida com o argumento de perseguição política.
A interrupção da entrevista à CNT expôs de maneira didática essa estratégia que vinha sendo cantada há tempos aqui, para explicar uma campanha eleitoral sem pé nem cabeça. Seu argumento para Márcia Peltier foi: ocorreu um desrespeito aos direitos individuais da minha filha; o resto é desculpa para esconder o crime principal.
Para salvar a pele, não vacilou em destruir a oposição, em tentar destruir a estabilidade política, em liquidar com a carreira de seus seguidores mais fiéis.
Mesmo depois que todas as pesquisas qualitativas falavam na perda de votos com o denuncismo exacerbado, mesmo com o clima político tornando-se irrespirável, prosseguiu nessa aventura insana, afundando os aliados a cada nova pesquisa e a cada nova denúncia.
Com isso, expôs de tal maneira a filha, que não será mais possível varrer suas estripulias para debaixo do tapete.
A marcha da história
Os episódios dos últimos dias me lembram a lavagem das escadarias do Senhor do Bonfim. Dejetos, lixo, figuras soturnas, almas penadas, todos sendo varridos pela água abundante e revitalizadora da marcha da história.
Dia após dia, mês após mês, quem tem sensibilidade analítica percebia movimentos tectônicos irresistíveis da história.
Primeiro, o desabrochar de uma nova sociedade de consumo de massas, a ascensão dos novos brasileiros ao mercado de consumo e ao mercado político, o Bolsa Família com seu cartão eletrônico, libertando os eleitores dos currais controlados por coronéis regionais.
Depois, a construção gradativa de uma nova sociedade civil, organizando-se em torno de conselhos municipais, estaduais, ONGs, pontos de cultura, associações, sindicatos, conselhos de secretários, pela periferia e pela Internet, sepultando o velho modelo autárquico de governar sem conversar.
Mesmo debaixo do tiroteio cerrado, a nova opinião pública florescia através da blogosfera.
Foi de extremo simbolismo o episódio com o deputado do interior do Rio Grande do Sul, integrante do baixo clero, que resolveu enfrentar a poderosa Rede Globo.
Durante dias, jornalistas vociferantes investiram contra UM deputado inexpressivo, para puni-lo pelo atrevimento de enfrentar os deuses do Olimpo. Matérias no Jornal Nacional, reportagens em O Globo, ataques pela CBN, parecia o exército dos Estados Unidos se valendo das mais poderosas armas de destruição contra um pequeno povoado perdido.
E o gauchão, dando de ombros: meus eleitores não ligam para essa imprensa. Nem me lembro do seu nome. Mas seu desprezo pela força da velha mídia, sem nenhuma presunção de heroísmo, de fazer história, ainda será reconhecido como o momento mais simbólico dessa nova era.
Os novos tempos
A Rede Record ganhou musculatura, a Bandeirantes nunca teve alinhamento automático com a Globo, a ex-Manchete parece querer erguer-se da irrelevância.
De jornal nacional, com tiragem e influência distribuídas por todos os estados, a Folha foi se tornando mais e mais um jornal paulista, assim como o Estadão. A influência da velha mídia se viu reduzida à rede Globo e à CBN. A Abril se debate, faz das tripas coração para esconder a queda de tiragem da Veja.
A blogosfera foi se organizando de maneira espontânea, para enfrentar a barreira de desinformação, fazendo o contraponto à velha mídia não apenas entre leitores bem informados como também junto à imprensa fora do eixo Rio-São Paulo. O fim do controle das verbas publicitárias pela grande mídia, gradativamente passou a revitalizar a mídia do interior. Em temas nacionais, deixou de existir seu alinhamento automático com a velha mídia.
Em breve, mudanças na Lei Geral das Comunicações abrirão espaço para novos grupos entrarem, impondo finalmente a modernização e o arejamento ao derradeiro setor anacrônico de um país que clama pela modernização.
As ameaças à liberdade de opinião
Dia desses, me perguntaram no Twitter qual a probabilidade da imprensa ser calada pelo próximo governo. Disse que era de 25% - o percentual de votos de Serra. Espero, agora, que caia abaixo dos 20% e que seja ultrapassado pela umidade relativa do ar, para que um vento refrescante e revitalizador venha aliviar a política brasileira e o clima de São Paulo.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

NOS LABIRINTOS DA MORAL

Nesse livro, os autores Mário Sérgio Cortella, filósofo, emérito pensador da educação, ex-Secretário da Educação do estado de São Paulo e Yves de La Taille, professor no Instituto de Psicologia da USP, questionam vários aspectos educacionais, priorizando a ética e a moral.
Esse questionamento é travado em um diálogo muito esclarecedor e envolvente, pois, os autores narram fatos ocorridos em suas vidas de estudantes fazendo reflexões acerca dos valores da vida cotidiana, interligando com a educação, que é desenvolvida hoje nas escolas.
Mário Sérgio, (pág. 10) menciona:
Nosso estranhamento já é um reflexo do questionamento que estamos vivendo em relação aos valores. Quer dizer, o modelo de organização da vida, o nosso paradigma de existência, começa a ser questionado com bastante força...a temática dos valores aparece mais como queixa do que como convicção. Por vezes, é uma lamúria: “Essa juventude está perdida”. Aliás, alguns dizem “O mundo está perdido”. Costumo brincar dizendo que quem repete muito isso começa a se perder nesse mundo. Afinal, “perde-se” aquele que não compreende o que está acontecendo à sua volta, que não “se localiza”.
Com essa reflexão, ele está se referindo as quebras dos paradigmas que, nos dias atuais, mudam com muito mais rapidez e, as pessoas precisam se habituar com essas mudanças, precisam ser mais flexíveis e atentas.
Yves, (pág. 36), demonstra preocupação em relação as noções éticas, se referindo ao respeito com o outro dizendo:
E hoje ocorre a volta da preocupação ética, preocupação com a vida boa, mas nem com, nem para o outro – e menos ainda em instituições justas. Em 2004, fiz uma pesquisa em uma escola pública, com adolescentes dos três anos do ensino médio. Inicialmente pedi para que eles escrevessem, quanto quisessem, sobre o que desejariam ser, como gostariam de viver, imaginando-se daqui a dez anos, de maneira ideal.
Nessa pesquisa, Yves constatou que apenas um terço dos alunos se referiu ao outro como elemento integrante de sua vida no futuro. Com essa reflexão ele está nos alertando dos perigos da modernidade, onde as pessoas cada vez mais se isolam em seu mundo tecnológico, não buscam o convívio com o outro nem para o outro. Fazendo uma comparação com os jovens da década de sessenta, Yves demonstra preocupação, pois, aquele jovem estava preocupado com a sociedade, com o futuro da humanidade.
Em contrapartida, Mário Sérgio, (pág. 37), pensa que os jovens daquela geração não possuíam coragem, quando diz:
Então, retomando, acho que na década de 1960 nós “renovamos o guarda-roupa”, demolimos uma série de valores, entramos numa rota de normalidade e acabamos perdendo o impulso. Acho que foram utopias complacentes que feneceram. Do ponto de vista da nossa conversa, acho que nos faltaram virtudes, sobretudo a da coragem. Desenvolvemos a amizade, a benevolência apareceu como um valor de natureza mais religiosa, mas nos faltou a coragem.
Os autores continuam nesse debate com relação às mudanças ocorridas nas últimas décadas. Abordam a ditadura militar como uma fase importante que testou a bravura e coragem dos jovens ao se rebelarem e contestarem, mas, ainda assim, tanto Mário Sérgio como Yves, concordam que havia um misto de romantismo envolvendo esses movimentos de bravura.
Ao longo do livro, os autores discutem várias questões éticas filosóficas, principalmente, com relação a sociedade e a educação. Para Yves, (pág. 109):
“No começo do século XX, os grandes edificadores, as pessoas mais importantes da sociedade eram freqüentemente educadores: Freinet, Montessori, Paulo Freire, aqui no Brasil, entre outros. Porém atualmente, a escola está tímida”. Mário Sérgio, concorda e acrescenta que a escola deve cumprir o seu papel, mesmo que, a responsabilidade não seja apenas sua, é tarefa prioritária da escola formar pessoas que valorizem a ética e a moral. Yves, (pág. 110), reafirma:
Isso, ferramenta para um mundo melhor. Não apenas para a obtenção de um emprego, embora também para isso, evidentemente. A escola é uma instituição organizada por adultos, dirigida por adultos, pensada por adultos. Será que eles estão dispostos? Devem estar. É um dever deles, para eles próprios, aliás.
Finalizando, na mesma página, Mário Sérgio, acrescenta:
Não podem não estar. Aliás, como estamos fechando a conversa, cito o Apocalipse, que é um bom livro para fechar nosso debate. No Apocalipse há uma frase assustadora que diz: “Deus vomitará os mornos”. O pior castigo no Apocalipse é o vômito de Deus. Logo, “Deus vomitará os mornos”, os que não são quentes nem frios – portanto, os que não têm honra.
As reflexões abordadas nesse livro, nos levam a buscar alternativas, como educadores, para as inúmeras situações com as quais convivemos diariamente, sejam elas nas escolas e, ou em nossa vida cotidiana. É um bate papo despretensioso entre os autores, mas de grande importância, pois, podemos aproveitar em nosso próprio benefício e dos outros.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O Globo é o jornal do apartheid?

Luiz Carlos AzenhaAssunto

Carta aberta sobre as cotas na UFRJ
Ao contrário do que pretendem afirmar alguns setores da imprensa, o debate em torno de políticas afirmativas e de sua implementação no ensino universitário brasileiro não pertence à UFRJ, à USP ou a qualquer setor, “racialista” ou não, da sociedade. Soma-se quase uma década de reflexões, envolvendo intelectuais, dirigentes de instituições de ensino, movimentos sociais e movimento estudantil, parlamentares e juristas.
Atualmente, cerca de 130 universidades públicas brasileiras já adotaram políticas afirmativas – entre as quais, a das cotas raciais – como critério de acesso à formação universitária. Entre estas instituições figuram a UFMG, a UFRGS, a Unicamp, a UnB e a USP, que estão entre as mais importantes universidades brasileiras.
Em editorial da última terça-feira, 17 de agosto, intitulado “UFRJ rejeita insensatas cotas raciais”, o jornal O Globo assume, de forma facciosa, uma posição contrária a essas políticas afirmativas. O texto desmerece as ações encaminhadas por mais de cem universidades públicas e tenta sugestionar o debate em curso na UFRJ. Distorcendo os fatos, o editorial fala em “inconstitucionalidade” da aplicação do sistema de cotas, quando, na verdade, o que está em pauta no Supremo Tribunal Federal não é a constitucionalidade das cotas, mas os critérios utilizados na UnB para a aplicação de suas políticas afirmativas.
Na última década, enquanto a discussão crescia em todo o país, a UFRJ deu poucos passos, ou quase nenhum, para fazer avançar o debate sobre as políticas públicas. O acesso dos estudantes à UFRJ continua limitado ao vestibular, com uma mera pré-seleção por meio do ENEM, o que significa um processo ainda excludente de seleção para a entrada na universidade pública. Apesar disso, do mês de março para cá, o debate sobre as cotas foi relançado na UFRJ e, hoje, várias decisões podem ser tomadas com melhor conhecimento do problema e das posições dos diferentes setores da sociedade em relação ao assunto.
Se pretendemos avançar rumo a uma democracia real, capaz de assegurar espaços de oportunidades iguais para todos, o acesso à universidade pública deve ser repensado. Isto significa que é preciso levar em conta os diferentes perfis dos estudantes brasileiros, em vez de seguir camuflando a realidade com discursos sobre “mérito” (como se a própria noção não fosse problemática e como se fosse possível comparar méritos de pessoas de condição social e trajetórias totalmente díspares) ou sobre “miscigenação” (como se não houvesse uma história de exclusão dos “menos mestiços” bem atrás de todos nós).
Cotas sociais – e, fundamentalmente, aquelas que reconhecem a dívida histórica do Brasil em relação aos negros – abrem caminhos para que pobres dêem prosseguimento aos seus estudos, prejudicado por um ensino básico predominantemente deficiente. Só assim os dirigentes e professores das universidades brasileiras poderão continuar fazendo seu trabalho de cabeça erguida. Só assim a comunidade universitária poderá avançar, junto com o país e na contra-mão da imprensa retrógrada, representada por O Globo, em direção a um reconhecimento necessário dos crimes da escravidão, crimes que, justamente, por ainda não terem sido reconhecidos como crimes que são, se perpetuam no apartheid social em que vivemos.
Rio de Janeiro, 19 de agosto de 2010