terça-feira, 22 de junho de 2010

O poema do semelhante

De Elisa Lucinda

O Deus da parecença
que nos costura em igualdade
que nos papel-carboniza
em sentimento
que nos pluraliza
que nos banaliza
por baixo e por dentro,
foi este Deus que deu
destino aos meus versos,
Foi Ele quem arrancou deles
a roupa de indivíduo
e deu-lhes outra de indivíduo
ainda maior, embora mais justa.
Me assusta e acalma
ser portadora de várias almas
de um só som comum e
coser reverberante
espelho, semelhante
ser a boca
ser a dona da palavra sem dono
de tanto dono que tem.
Esse Deus sabe que alguém é apenas
o singular da palavra multidão
É mundão
todo mundo beija
todo mundo almeja
todo mundo deseja
todo mundo chora
alguns por dentro
alguns por fora
alguém sempre chega
alguém sempre demora.
O Deus que cuida donão-desperdício
dos poetas
deu-me essa festa
de similitude
bateu-me no peito do meu amigo
encostou-me a ele
em atitude de verso beijo e umbigos,
extirpou de mim o exclusivo:
a solidão da bravura
a solidão do medo
a solidão da usura
a solidão da coragem
a solidão da bobagem
a solidão da virtude
a solidão da viagem
a solidão do erro
a solidão do sexo
a solidão do zelo
a solidão do nexo.
O Deus soprador de carmas
deu de eu ser parecida
Aparecida
santa
puta
criança
deu de me fazer
diferente
pra que eu provasse
da alegria
de ser igual a toda gente
Esse Deus deu coletivo
ao meu particular
sem eu nem reclamar
Foi Ele, o Deus da par-essência
O Deus da essência par.
Não fosse a inteligência
da semelhança
seria só o meu amor
seria só a minha dor
bobinha e sem bonança
seria sozinha minha esperança

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS

Mario de Andrade

"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa... Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana, que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade... Só há que caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. O essencial faz a vida valer a pena.E para mim, basta o essencial”.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

VOTO CRISTÃO...

O chamado voto cristão é aquele que a igreja prega aos seus fiéis, procurando incutir em suas cabeças, que ao elegerem um candidato da mesma crença religiosa deles, estará demonstrando com isso a superioridade daquele povo escolhido por Deus.
Essa questão da superioridade religiosa, é um recurso muito eficaz que o candidato utiliza para convencer seus fiéis, diante da imensa rivalidade que existe entre as religiões.
As doutrinas evangélicas são as mais competitivas, portanto, com esse espírito acirrado de supremacia religiosa, o candidato evangélico procura garantir sua vitória nas urnas, com um discurso que eleva a auto-estima de seus seguidores religiosos, enaltecendo neles esse sentimento de verdadeiros filhos de Deus, os outros são os filhos do mundo.
Outra argumentação que os candidatos da igreja utilizam, é com relação as inúmeras promessas que os políticos fazem e nunca cumprem. Ao serem eleitos nunca mais aparecem. Já os candidatos da igreja, estão ali bem próximos dos fiéis, podem ser tocados e cobrados, é um igual a eles.
Alguns candidatos das igrejas são mais astutos ainda e, conhecem outras tantas formas de convencer o eleitor de seu curral eleitoral, chamando seus fiéis de Rebanhos de Deus.
Eles vão fazendo alusões à bíblia, deixando seu eleitorado convencido de que algo extraordinário deverá acontecer após as eleições, com a vitória de seu candidato, já eleito por Deus.
São inúmeras as artimanhas utilizadas pelos religiosos, detentores do poder dentro das igrejas. Seu eleitorado é facilmente manipulado, pois, são crédulos e temerosos.